
Sempre vivi às voltas com arte digital.
Eu gosto da materialidade, de pintar, segurar o pincel, ter precisão, desenhar no papel. Quando comecei a trabalhar com colagem, então, isso se tornou ainda mais intenso.
Eu já tinha tentado fazer pinturas digitais, mas eu me frustrava muito. Essa frustração quase infantil que eu falo para meus alunos não caírem, porque a gente não fica imediatamente bom nas coisas que começamos.
Durante a pandemia, passei a dar aulas de desenho online, então tive que “me virar nos 30” para aprender o mínimo de arte digital e dar mais suporte aos meus alunos (vou fazer um post aqui no blog sobre como foi esse processo de começar a dar aulas online).
Mas não adiantava, por mais que me esforçasse, eu não conseguia fazer algo que gostasse. Os resultados ficavam sempre muito aquém do que eu era capaz de fazer no papel e isso me incomodava muito.




Mas eu sou uma artista profissional, eu sei desenhar, eu sei trabalhar com cor, com linhas, formas, enfim, por que eu não sou boa em arte digital?
Bom, eu tinha uma Wacom. Primeiro uma Bamboo, durante muitos anos, depois uma Intuos. Tinha um bom PC que eu mesma montei e pago pacote Adobe para ter acesso a todos os softwares da marca. Ou seja, eu tinha um excelente equipamento.
Bom, eu tinha uma Wacom. Primeiro uma Bamboo, durante muitos anos, depois uma Intuos. Tinha um bom PC que eu mesma montei e pago pacote Adobe para ter acesso a todos os softwares da marca. Ou seja, eu tinha um excelente equipamento.
Ao longo da minha formação, foram necessários muitos cursos para começar a engatinhar na arte digital. Cursos de pintura digital na extinta Black Ink, cursos e mais cursos no Domestika, até finalmente achar o curso de aquarela no PhotoShop do Adilson Farias, que foi o que começou a me levar para um caminho mais interessante.


Esse curso me mostrou como chegar a um lugar que parecia aquarela real, era incrível!
Várias pessoas vinham me perguntar como consegui essas cores com aquarela e, na verdade, era tudo digital! Acho que já deu pra perceber, mas minha meta era que minha arte digital ficasse o mais parecida com minha arte manual possível.
E, então, chegamos a 2023, quando eu fui para os EUA pela primeira vez.
Eu fui ficar um mês com meu companheiro em Denver e iria continuar trabalhando e dando minhas aulas de lá. Bom, já comentei ali em cima, mas eu tinha um desktop. Não tinha como levar ele pra viagem e a solução mais prática que achamos para isso foi comprar um tablet. Assim, eu poderia dar aulas remotamente sem problemas. Cheguei numa quinta à noite e já daria aula na segunda seguinte; então logo na sexta fomos à loja da Apple comprar a nova ferramenta.
Eu fui ficar um mês com meu companheiro em Denver e iria continuar trabalhando e dando minhas aulas de lá. Bom, já comentei ali em cima, mas eu tinha um desktop. Não tinha como levar ele pra viagem e a solução mais prática que achamos para isso foi comprar um tablet. Assim, eu poderia dar aulas remotamente sem problemas. Cheguei numa quinta à noite e já daria aula na segunda seguinte; então logo na sexta fomos à loja da Apple comprar a nova ferramenta.
Boa parte da interação na loja foi mediada pelo meu companheiro, Rodrigo, porque eu ainda estava tentando me acostumar com o idioma. Eu tinha ido com a intenção de comprar um ipad um pouco mais simples, menor, mas que desse apenas pra cumprir meu objetivo.
Rodrigo conversou com a atendente e por fim, saímos de lá com o melhor ipad que poderíamos comprar naquele momento, um Ipad Air, 5ª geração com uma Apple Pencil 2ª geração.
Não preciso dizer que todo meu fim de semana foi gasto aprendendo a mexer no meu “brinquedo novo”. Minha primeira providência foi comprar o Procreate e ficar encantada com o fato de que quando eu deito a caneta pra desenhar, muda a textura do lápis. Essas foram as primeiras tentativas que já me mostraram que seria muito mais fácil dominar o Procreate do que foi dominar o PhotoShop, embora todo o meu esforço em dominar o PhotoShop tenha me preparado pra isso.



Deu tudo certo para dar aulas.Tive que fazer alguns testes inicialmente e, no fim, funcionava assim: eu entrava no Google Meet pelo celular e tablet, usava a câmera e microfone do celular e compartilhava a tela do tablet. Assim, meus alunos podiam ver os desenhos de referência e me ver e ouvir ao mesmo tempo. Um fato curioso é que, como o Rodrigo mora lá para trabalhar e passa a maior parte do tempo no escritório, não tinha internet no apartamento. Então, passei um mês dando aulas na área de convivência do prédio, numa mesa de poker.
Voltando dos EUA, a viagem é muito longa e cansativa. De Denver até o Panamá, são quase 8 horas. Então, achei um curso básico de Procreate no Domestika (Procreate para iniciantes: aprenda ilustração digital do zero - Por Brad Woodard), baixei e fui de Denver ao Panamá assistindo. Depois disso, fiquei mais 10 horas no aeroporto do Panamá. Mas eu tinha um plano: achei um café, comprei um mocha e sentei pra desenhar. Fiquei o tempo todo ali, desenhando no Ipad, e saíram os três desenhos abaixo. Do Panamá pro Brasil eu me rendi ao sono.
(imagem 4)
(imagem 4)
Já no Brasil, descobri que o Procreate tinha uma ferramenta de animação, então comecei a fazer alguns testes.

Mas foi só depois do FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) de 2024 que eu passei a realmente usar o Procreate como ferramenta.
Eu gostava de algumas coisas que fazia nele, mas ainda me sentia em treinamento. Como eu sempre deixo meus projetos pessoais para última hora, o evento estava se aproximando e eu não tinha nada de novo pra mostrar desde o FIQ de 2022. Entrei em pânico, chorei, pensei em desistir de ir, mas daí decidi fazer um zine sobre TDAH. Vai ter outro post no blog explicando melhor o processo de criação desse zine mas, por enquanto, o que nos importa é que, mesmo com muitos problemas técnicos, foi minha primeira publicação oficial usando arte digital.
Eu gostava de algumas coisas que fazia nele, mas ainda me sentia em treinamento. Como eu sempre deixo meus projetos pessoais para última hora, o evento estava se aproximando e eu não tinha nada de novo pra mostrar desde o FIQ de 2022. Entrei em pânico, chorei, pensei em desistir de ir, mas daí decidi fazer um zine sobre TDAH. Vai ter outro post no blog explicando melhor o processo de criação desse zine mas, por enquanto, o que nos importa é que, mesmo com muitos problemas técnicos, foi minha primeira publicação oficial usando arte digital.
O zine teve uma ótima repercussão no evento, esgotou no último dia e isso me deixou muito mais confiante a respeito das minhas habilidades com arte digital.
(imagem 6)
Ainda em 2024, decidi fazer um quadrinho de 5 páginas inteiramente digital para uma antologia. Essa não foi uma decisão sem peso. Eu fiquei triste, me desesperei (sou um pouco dramática) achando que o editor não iria aceitar.
Ele não só aceitou, como achou tudo lindo. Eu ia compartilhando com eles os processos e ele ia compartilhando no grupo da antologia.
Ele não só aceitou, como achou tudo lindo. Eu ia compartilhando com eles os processos e ele ia compartilhando no grupo da antologia.







As pessoas do grupo reagiram super bem e, durante a comic con de 2024, Cristiano Seixas - sócio-diretor da Casa dos Quadrinhos - fez questão de ir até a minha mesa para elogiar as páginas.
Isso, junto com o pagamento pelo meu primeiro trabalho encomendado e executado no digital, foram a injeção de confiança que eu precisava pra me sentir mais segura com o novo método.
Isso, junto com o pagamento pelo meu primeiro trabalho encomendado e executado no digital, foram a injeção de confiança que eu precisava pra me sentir mais segura com o novo método.
Quem diria que tempo, paciência e um pouquinho de coragem eram tudo o que eu precisava pra ilustrar melhor digitalmente? (ironia)
Agora, minhas incursões no Procreate estão bem mais consistentes e, mais importante de tudo, desapegando da ideia de que minha arte digital tem que ser igual a manual. Não sinto mais que precisa se parecer tinta e papel pra ter valor. A arte digital é uma outra técnica que, agora, eu domino bem!


